28 março 2014

NIETZSCHE: PARA QUÊ E POR QUE A VERDADE?

"Para o Nietzsche, a história do conhecimento humano é a história da negação da vida, é a história de uma ilusão, é a história da construção de um modelo de homem que não existe e que jamais existirá. Para o Nietzsche, o homem construiu uma imagem de si muito superior ao que o homem consegue ser, e corre atrás dessa imagem. Então, Nietzsche tira esse antropocentrismo, que é o homem se sentindo o máximo, e diz: desce desse lugar."




23 março 2014

SOMATERAPIA, A CURA ATRAVÉS DO ANARQUISMO

A SOMATERAPIA, criada pelo patrono do Anarquismo no Brasil e formidável pessoa, o psiquiatra Roberto Freire, pode ser um grande passo no caminho da catarse que a humanidade precisará fazer para se libertar dos dogmas, padrões de comportamento, ideias, conceitos e preconceitos, que só o que fazem é cada vez mais lhe aprisionar.

O QUE É A SOMATERAPIA?

"É uma terapia corporal e em grupo, baseada no Anarquismo e na teoria de Wilhelm Reich, discípulo dissidente de Freud. A Somaterapia entende o conflito neurótico — que gera conflitos e dependências  a partir das relações de poder presentes em vários níveis da sociedade. Assim, o Anarquismo com ética filosófica procura permear a metodologia da Somaterapia, permitindo a identificação do autoritarismo nas relações interpessoais. Além da teoria reichiana, ela também adota o aqui-e-agora da Gestalt-terapia e as descobertas sobre a pragmática da comunicação humana presente nos estudos da Antipsiquiatria, especialmente o conceito de Duplo-Vínculo e sua implicação nas relações afetivas."
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Somaterapia)



QUEM FOI ROBERTO FREIRE?
"Psicanalista, escritor, jornalista, dramaturgo, e antes de tudo um anarquista. Um anarquista graças a Deus?! Não, um anarquista graças a Eros. Um militante do prazer, um guru brasileiro, um guru da contracultura do terceiro mundo verde-amarelo."
(Antônio Abujamra)




19 março 2014

ANATOMIA DO PODER

Todo poder é fraco porque ele se fortalece da fraqueza daquilo que a ele obedece. E tudo que se apoia na "fraqueza dos fracos" é fraco pela sua própria natureza, a qual tem na fraqueza dos outros a base da sua fortaleza. A fragilidade da sustentabilidade do poder está na causalidade da sua transitoriedade, que está relacionada com o fato do poder subsistir com superioridade até que encontre a rivalidade de um outro em nivel de igualdade. O poder então é covarde. O poder também é ridículo, assim como o seu detentor, mesmo que ele utilize o artifício de ser em nome da paz e do amor.

Essas premissas são válidas para todo e qualquer poder, inclusive o poder de Cristo que se vangloria na fraqueza do cristão, ou até mesmo o poder de Deus que se realiza na fraqueza da sua Criação.

Você deve estar pensando que eu deveria pedir perdão... Não, não pedirei perdão. Se o fizesse, estaria fugindo da razão, pensando com emoção.



16 março 2014

SANTO DAIME OU AYAHUASCA


Agora, vou relatar uma das minhas experiências que eu tive com religião, que, para não variar, foi um completo desastre, e que me mostrou, mais uma vez, a falta de estrutura das religiões. É a respeito da doutrina do Santo Daime, a qual eu abracei por muitos anos. Em seus rituais é utilizado um chá altamente alucinógeno feito com a adição de dois tipos de determinadas plantas originárias da floresta amazônica: um cipó e uma folha. Esse chá foi descoberto pelos Incas, no Peru, há milhares de anos; e é utilizado pela maioria das tribos indígenas da Amazônia. Essa bebida também é conhecida pelo nome de Ayahuasca, na língua Quíchua. O interessante é que se o chá for feito com essas plantas separadamente e depois juntado, não causa o menor efeito em termos de alteração da consciência. Portanto, ele deve ser preparado com as plantas juntas, na dosagem certa e obedecendo-se com rigor uma série de outros procedimentos.

Morava ainda em Belo Horizonte, no final da década de 1970, quando li um artigo numa revista sobre essa doutrina, cujo título era bem sugestivo: "Divina Piração". Recortei esta matéria, guardei-a comigo, e disse para mim mesmo que um dia iria conhecê-la. Uns bons anos depois, e já residindo em São Paulo, aproveitei umas férias do trabalho, peguei um avião — naquela época era avião à hélice ainda — e fui parar lá na cidade de Rio Branco, no estado do Acre. Nessa época, o Santo Daime estava praticamente limitado ainda somente a esse estado, ao contrário do que é atualmente, com vários centros em muitos estados brasileiros, e alguns até no exterior. Fiquei hospedado por 3 dias numa comunidade da doutrina, num sítio chamado Colônia Cinco Mil, localizado na periferia da capital.

Logo no primeiro dia, à noite, eu participei de um ritual com essa bebida, tomando-a pela primeira vez na minha vida. Foram apenas dois copinhos de nada, que não foram suficientes para alterar em muito a minha consciência naquele dia, apenas senti um leve bem-estar e uma gostosa calma. No segundo dia, tomei o Daime novamente, na mesma quantidade do dia anterior e da mesma garrafa; tudo foi igual, inclusive o trabalho e a sua duração. Rapaz! Eu nunca sofri tanto assim na minha vida, juro por Deus. Eu não gosto nem de lembrar, ao mesmo tempo em que eu também não consigo esquecer. Entrei num processo profundidíssimo de introspecção e auto-análise, que me levaram ao completo desespero, fazendo-me sofrer bastante ao eu ter que lutar contra um sentimento muito doloroso de falta de identidade. Eu sabia quem eu era, mas não sabia o que eu era em síntese. Sabia o meu nome, onde eu morava e tudo o que eu tinha feito na minha vida até aquele momento; minha memória ficou intacta. O sentimento era de que estava faltando alguma coisa, alguma informação para a minha consciência se completar. Eu não fiquei tonto, nem louco, nem agressivo, não perdi a minha educação, a qual muita gente acha que pode perder só porque está sob o efeito de uma droga, de um alucinógeno, e conseguia conversar normalmente com as pessoas. Mas por dentro parecia que o Santo Daime havia feito entrar em erupção o vulcão da maior dúvida que persegue todo e qualquer ser humano, desde o seu nascimento até a sua morte, e que pode ser expressa pela pergunta: "Quem sou eu, o que eu sou, o que eu estou fazendo neste mundo?". Eu já tinha tido vislumbres dessa sensação outras vezes e sem estar com a consciência alterada, mas esses vislumbres nem chegavam aos pés daquele sentimento de um enorme vazio, de que estava faltando em mim uma espécie de conhecimento fundamental que eu desconhecia completamente. Aquela bebida havia ampliado esse sentimento pelo menos umas mil vezes, não é possível. O Daime tem essa característica de servir como uma lente de aumento, mostrando para nós claramente as nossas fraquezas e virtudes, para que nenhum daimista fale depois que "não viu direito". Esse tipo de viagem, uma bad trip — e põe bad nisso —, nessa doutrina, é muito comum e tem até um nome específico: "peia". Geralmente o efeito do Daime termina assim que o trabalho também se encerra. Mas, nessa minha experiência, não sei o porquê, ele ficou atuando em mim, ou seja, eu fiquei, como se diz na doutrina, "mirando" ainda por várias horas após o término da reunião, a qual costuma ter uma longa duração, bailando-se ao som de instrumentos musicais e maracás, e cantando-se hinos, cujos versos nos remetem ao Cristianismo, ao Espiritismo e à linha de Umbanda. E o pior é que o efeito dele era intermitente, ía e voltava. Quando eu achava que estava livre dele, de repente, já vinha ele voltando de novo com tudo. Só sei que naquela madrugada não consegui dormir, e a única solução que encontrei naquele momento desesperador, para me livrar o mais rápido possível do efeito daquela bebida, foi tomar bastante água na tentativa de expulsá-la definitivamente da minha corrente sanguínea. No terceiro dia pela manhã eu já estava embarcando de volta para São Paulo, e dizendo para mim mesmo que nunca mais eu iria tomar o Daime, aquela bebida odiosa.

Passados dois anos, e depois de muito matutar, acredite se quiser, mas, como todo bom buscador, eu retornei àquela comunidade para fazer uma segunda experiência com aquele alucinógeno. Dessa vez, pelo menos, eu não passei mal e fiquei sabendo que na cidade de São Paulo estava sendo instalado o seu primeiro centro de Daime, chamado "Flor das Águas". Recebi aquela notícia com alegria, pois assim ficaria muito mais fácil e menos oneroso eu continuar com a minha pesquisa. Esse centro era comandado por uma pessoa bastante evoluída espiritualmente, da qual eu acabei me tornando um quase-discípulo. Digo quase porque nessa doutrina o único que pode ser considerado um mestre é o próprio Daime, a própria bebida. Mas ele me ensinou muitas coisas, que eu nem sonhava  que existiam, principalmente em relação à linha da Umbanda, que passei a ver com outros olhos, que antes, devo dizer, eram bem preconceituosos, como o é para a maioria das pessoas, por pura falta de informação. Dentro dessa doutrina, eu pude experimentar uma coisa realmente fantástica que é ficar sob o controle dessas entidades chamadas Caboclos. Eu consegui a façanha de receber esse tipo de energia e pude entender exatamente o que ocorre com a pessoa, também chamada de "Cavalo", que fica submetida à ela. Existe uma explicação para aqueles movimentos que aparecem como espasmos síncronos, principalmente localizados nos ombros e na coluna vertebral: eu acho que eles ficam controlando a Kundalini — nome dado pelo hinduísmo a nossa energia sexual. Eu acho não, eu tenho certeza. Eles controlam e aperfeiçoam essa energia na pessoa, cuja coluna vertebral se comporta como se fosse a corda de um violão a ser dedilhada por um virtuose, cuja maestria nos permite dizer que esses Caboclos, sem dúvida, são seres muito poderosos; e também bondosos. É muito prazeroso, e a gente se sente em estado de graça. Se eu pudesse, ficaria o resto da minha vida sentindo aquele prazer tão intenso. Eles até que têm bastante ética e, portanto, são muito evoluídos, esses tais do Reino de Aruanda. O problema principal da Umbanda é que muita gente simula, enquanto outras tantas se auto-sugestionam. Mal sabendo elas que agindo assim estarão cada vez mais longe da verdade. Mas isso é derivado de uma falha pedagógica. Porém, nem tudo é alegria na vida de um "cavalo" — um cavalo verdadeiro, é claro —, pois às vezes essa energia vem tão forte que dá um medo danado, e a vontade que tem o cavalo é de sair correndo em disparada. Para quem já sentiu essa força é muito fácil identificar quando é ou não uma fraude, que é o que mais se vê por aí.

Coincidentemente, essa falha se perpetuou também no nosso grupo, gerando um conflito interno entre os seus integrantes, que acabou fazendo com que o nosso centro fosse o primeiro a ser erigido em São Paulo, e também o primeiro a ser destruído. E o mais irônico, é que o líder daquela insurreição contra a linha da Umbanda era um europeu, que não tinha nada a ver com a nossa cultura, e que nem sequer ao bailar conseguia ter a ginga, o swing, que nós brasileiros temos de sobra, e parecia um palito dançando entre os dentes. Mais uma vez a religião me abriu as portas, para depois fechá-las impiedosamente, deixando-me extremamente deprimido, principalmente por ter interrompido, e abruptamente, as minhas pesquisas importantes.

O mais estranho dessa estória é que se não tivesse havido essa contenda, essa guerra dos Não-Umbandistas contra os Umbandistas, no nosso grupo, gerada pela desinformação e pelo seu filho predileto, o preconceito, o Glauco Villas Boas provavelmente não teria partido para a construção da sua própria igreja e, portanto, não teria sofrido a tragédia que todos nós conhecemos. O Glauco era uma pessoa muito séria, contrastando com o fato de ele ter sido um famoso cartunista. Ele respirava a doutrina, e o seu amor por ela era muito grande. O Santo Daime estava para o Glauco, assim como Cristo estava para Paulo. Por coincidência ou não, tudo isso aconteceu numa cidade e num estado chamados São Paulo. O Glauco seria capaz até de dar a sua própria vida pela doutrina, como acabou acontecendo. E, para piorar ainda mais, levando também a vida do seu querido filho. Belo cabedal para uma doutrina religiosa, para o Reino dos Juramidans, para a Hierarquia do Ayahuasca no Astral, e para Oxóssi e seus Caboclos que, além de tudo, foram expulsos não só do seu terreiro, como também de toda a sua própria "senzala": 8 balas de um revólver calibre 765 e 2 assassinatos, com 4 balas em cada um.


O cipó e a folha



Mestre Irineu, o fundador

O ritual

Glauco Villas Boas

Glauco e o seu filho; e o assassino em primeiro plano





13 março 2014

A IGNORÂNCIA

No início de 1980, tinha acabado de obter a minha formatura em engenharia, mas estava ainda desempregado e, portanto, sem grana. Eis que surgiu então, nesse entremeio, o concurso do IBGE para recrutamento de recenseadores para o Censo desse mesmo ano, que, como sabemos, é realizado apenas de dez em dez anos. Passei no concurso, graças a Deus, mas foi bem difícil. Senti-me honrado em poder participar de um projeto governamental. Por outro lado, pude ver com os meus próprios olhos, já que tive que visitar família por família do meu povo, que ainda havia muito o que fazer para que a nossa sociedade, a sociedade brasileira, pudesse viver pelo menos com dignidade. Lembro-me muito bem de um episódio, que presenciei na minha tarefa de recenseador, o qual perpetua na minha memória, a ricochetear dentro da minha cabeça até hoje; quando eu estava fazendo o meu trabalho numa pequena favela na periferia de Belo Horizonte, e entrevistando uma mãe com um filho pequeno nos braços. Ela, em pranto, dizia que tinha medo que eu estivesse ali para levar o filho dela embora, que o governo estava fazendo isso durante o Censo. Quase chorando também, eu me prontifiquei rapidamente a explicar-lhe que o que ela tinha ouvido das outras pessoas sobre os objetivos do Censo estava totalmente errado. Expliquei-lhe que o governo não queria levar os filhinhos embora de suas queridas mãezinhas, muito pelo contrário, ele queria mesmo é saber, confirmar, ter certeza de que os filhinhos estavam mesmo com as suas queridas mãezinhas e se estavam bem; fortes e sadios. Meu Deus! A partir desse episódio alguma coisa mudou em mim. A ignorância ainda impera no nosso país, devo dizer, e vai a fronteiras impensáveis. Só vivendo na prática para saber. Muitos vão achar que essa mulher era doida. Mas não era, eu garanto. Era apenas mais um caso de ignorância profunda, ainda não assistida pelo dever constitucional do Estado de prover educação para todos os seus filhos.



07 março 2014

DEGREDO OU DESTERRO

Degredo ou desterro, tanto faz, não há o que diferenciar. É levar para longe, é desterrar, degredar. É exilar, manter fora de sua terra um réu que lá permanecerá até a sua pena se encerrar; quando então poderá comutar, voltar para o seu próprio lugar. Era comum na ditadura militar, uma outra opção além de matar quem se opunha a calar e lutava para o Brasil desse regime se libertar. Era a força do canhão a censurar quem tinha a força do pensar e odiava a ideia do país se fardar. Até que um dia chegamos lá, apesar de que devagar. Alcançamos essa liberdade, mas voltamos de outras formas a nos escravizar, com pesar.



06 março 2014

A BÍBLIA E SUA APOLOGIA AO ALCOOLISMO

A Bíblia, como todo mundo sabe, é o livro mais famoso da humanidade, é o mais lido, e é o alicerce do cristianismo, sendo por isso considerado um livro sagrado e muito respeitado por todos os cristãos e pela maioria dos não cristãos também, apesar de que de certa forma ele poderia ser visto como bastante pessimista, demodê, completamente inadaptado aos tempos atuais, totalmente fora do contexto do pensamento e do modo de vida do homem contemporâneo, e, além de tudo, ele ainda é apologético de uma das piores drogas, que é o álcool, que provoca milhões de mortes todos os anos no mundo, devido aos efeitos catastróficos que o álcool tem no nosso organismo, sem contar os que morrem em acidentes de trânsito devido a ele.

Na Bíblia, encontram-se mais de 200 citações da palavra "vinho", e, além de não proibir o seu consumo, ela chega até a ter a ousadia de incentivá-lo. Por exemplo, em Provérbios, no capítulo 31, o versículo 6, diz o seguinte:

"Dai bebida forte ao que está prestes a perecer, e o vinho aos amargurados de espírito."

E no versículo 7, está escrito ainda:

"Que beba, e esqueça da sua pobreza, e da sua miséria não se lembre mais."

Bom... se isso não é apologia ao alcoolismo, então eu não sei mais o que é apologia e nem o que é alcoolismo.

Apesar de que só o primeiro milagre de Cristo, que foi a transformação de aproximadamente 600 litros de água em vinho, em uma festa de casamento por ter o vinho acabado, já bastaria para servir de incentivo ao consumo de bebida alcoólica na nossa sociedade; para que o álcool fosse considerado, até hoje, a única droga lícita, a única droga que os seus usuários podem consumir livremente sem serem taxados de criminosos como acontece com as outras drogas. Essa inversão de valores podemos atribuir como causa, mesmo que indiretamente, à própria Bíblia, ao cristianismo. Por que quem consome álcool é muitas vezes considerado virtuoso e estiloso, ao passo que, por exemplo, quem consome cannabis é considerado criminoso e horroroso, pela nossa sociedade ocidental? E se naquela região e naquela época em que Cristo viveu, ao invés do vinho ser a droga do momento, fosse a cannabis? Será então que ele transformaria capim em maconha?

Na realidade, está bem claro aí que Jesus utilizou os seus poderes paranormais nessa transformação apenas como um instrumento de marketing da sua doutrina. Que necessidade premente é essa de se materializar bebida alcoólica em uma festa? Isso só teria alguma lógica se considerarmos que Cristo tinha consciência de que se tirássemos as suas demonstrações de poder psíquico não sobraria nada no cristianismo, e assim a sua passagem pela Terra seria esquecida em pouco tempo. Mas, na minha opinião, tudo isso não passou de uma grande criancice; e se Deus, o criador do universo, participou disso, eu considero ele o mais criança de todos, mesmo considerando toda a complexidade e a aparente seriedade da sua criação. É preciso dizer também que a Bíblia é um livro inconsequente e imoral, que vem erroneamente querendo ditar, por milênios, a moral de toda uma civilização.

Entretanto, é preciso esclarecer que as religiões, de um jeito ou de outro, sempre estiveram ligadas às drogas; porém, mais comumente, às chamadas drogas enteógenas, utilizadas quase sempre apenas durante os seus rituais. Esse termo "enteógeno" é um neologismo derivado da palavra inglesa "entheogenic", e designaria um tipo de substância com capacidade de produzir uma alteração de consciência que induziria no indivíduo um estado de autopercepção da sua "natureza divina". Como exemplos disso, nós podemos citar os sadhus na Índia, que usam o haxixe; os rastafaris, na Jamaica, que utilizam a cannabis, na sua forma original, sem o processamento que leva ao haxixe; tem os xamãs, na América do Sul e na América Central, que empregam o peiote, o cacto São Pedro, os cogumelos alucinógenos, a sálvia divinorum, entre outras drogas, também chamadas de "plantas de poder"; inclusive o ayahuasca, que foi incorporado à doutrina brasileira conhecida como Santo Daime; e, por último, podemos citar também a jurema, que é utilizada na umbanda e no candomblé. Ao dizer isso, eu não estou querendo fazer apologia a essas drogas, longe disso. Além do quê, eu não aconselharia ninguém a usar essas drogas enteógenas, principalmente se elas forem utilizadas fora desse contexto que nós estamos tratando aqui, ou seja, se elas forem usadas apenas de modo recreativo e sem ter, por perto, uma pessoa experiente nesses assuntos para dar um suporte, já que essas drogas enteógenas colocam o indivíduo cara a cara consigo mesmo, e é muito difícil essa experiência, porque, como elas funcionam como uma lente de aumento do nosso subconsciente, elas podem provocar a erupção de sentimentos e sensações bastante indesejáveis, e podem mostrar para a pessoa facetas dela própria que ela nem sonhava que existiam dentro dela; ela se vê obrigada a encarar as suas próprias mazelas mentais e espirituais, e isso é muito complicado, é uma experiência muito forte, que geralmente leva ao que é chamado de "bad trip", de viagem ruim, fazendo com que a pessoa fique com a cabeça meio "dançada", como se diz na gíria, e às vezes até de modo permanente.

O ideal mesmo, na minha opinião, é viver sem precisar usar droga nenhuma. E a Bíblia, como sempre, para conservar a sua tradicional ligação com o azar, com a má sorte, com o mau agouro, resolveu, desgraçada e azaradamente, usar o álcool como a sua droga modelo, que, ao contrário das drogas enteógenas, ao invés de fazer o pensamento evoluir, de criar a introspecção, a autoanálise, faz justamente o oposto; o usuário do álcool geralmente acaba se transformando em um idiota, sem contar os graves prejuízos que o álcool traz ao nosso organismo, principalmente ao fígado, que é o primeiro órgão a ser sacrificado.


05 março 2014

PALAVRAS

Tenho alma de escritor e de poeta. Coleciono palavras e brinco com elas. Sobre tudo discorro, pois sempre as palavras me vem como um jorro. Contê-las é impossível e inútil, e se o fizer acho que morro. Façamos, então, um brinde à palavra, tão linda e esperada, que guarda no seu ventre o significado de tudo, que embala e mantém o mundo.

Ah, as palavras... As palavras são muito mais do que palavras. São o âmago de qualquer questão, concreta ou não. Suavizam ou derrubam no chão. E subjugam o escritor e o poeta a uma perpétua escravidão.



SÓ EXISTE O PASSADO

Cada fração de segundo é tão efêmera quanto menor ela for. Mal aparece em um diminuto instante, e quando vai-se ver já passou. Assim, o presente é tremendamente fugaz, insignificante como um piscar de olhos, transitório como tudo o que se faz. Se o tempo fosse água, de gota em gota ele já teria ido, e o agora só existiria apenas no lapso em que a gota se formou. O futuro, coitado, está em um momento que ainda nem despertou. Sempre fui... jamais serei... nunca estou.

Se sou passado eternamente, então quem eu sou?





O SEGREDO DAS FOLHAS CAÍDAS

Quando vejo muitas folhas de árvores caídas no chão, uma sensação estranha me invade a alma. Sinto-me sobremaneira enlevado, encantado, e transportado para outros mundos, mundos sombrios, mas singularmente angelicais. Estou certo de que esse enlevo tem um profundo significado, ainda desconhecido por mim mesmo, pois esse mistério permanece oculto em algum canto recôndito do meu ser.



AS JANELAS

Um retângulo com tanto significado... É por onde avisto o futuro, o presente e o passado. Debruçado nela aguardo o meu amor chegar, enquanto admiro o luar. Por ela, deixo a brisa entrar para refrescar, os raios do sol para iluminar ou o cheiro das flores para perfumar. É da minha janela que eu vejo o mar e as suas gaivotas a voar. Se a chuva vai se formar, eu verifico por lá. Pela janela, as silhuetas das vidas que se escondem por detrás dela pode-se enxergar. Uma casa sem janelas não é boa de se morar, e sim de se aprisionar. Pela janela o amante desautorizado tem que pular, e em suas vidraças ele joga pedrinhas para anunciar que acabou de chegar. É um ótimo lugar para se espionar, ver sem ser visto, ou apenas ver sem se preocupar, descansar, meditar...

Na realidade, as janelas são portas para o olhar.



03 março 2014

A ORIGEM DOS ÍNDIGOS E DOS BABACANANDAS

Agora eu vou explicar a origem dos índigos e dos babacanandas, a qual remonta a eras muito longínquas, antes mesmo da inauguração oficial do universo.

Nessa época, existia apenas um único reino, que era chamado de Quintessência do Karalhananda. Tudo estava em paz, na maior tranquilidade, pois o imperador, cujo nome era Rama Krishnanada, governava os seus súditos com pulso firme, não deixando ninguém sair da linha. Eis que num infeliz dia, um infeliz dos seus soldados, conhecido como Lindo Pa Karamba, que inclusive era originário de uma terra muito distante dali, e tendo como conivente o seu companheiro fiel, cujo cognome era Aurobilolado, resolveu, esse meliante, assediar a princesa Pittu Shashá, à qual os soldados se referiam carinhosamente como a "Pitushinha". Mas, o imperador Rama, com sua sabedoria inata, não demorou muito até descobrir que havia acontecido este crime dentro do palácio real. O imperador chamou os dois crápulas à sua presença, e citou-lhes como sentença terem que encarnar em inúmeras reencarnações. Lindo Pa e Auro tiveram assim que ser expulsos do reino de Karalhananda, e foram obrigados a viver no meio do lodo das regiões umbralinas por muitas e muitas eras. A única coisa boa que restou para eles, vivendo nessas regiões, era a forte amizade de um para com o outro, que se referiam mutuamente como "amoroso amigo extrafísico".

Prescrito o período daquela pena, eis que o imperador Rama Krishnanada chama os dois novamente à sua presença, para um novo julgamento em segunda instância. Como os Juizes Espirituais tinham entrado em recesso durante toda aquela era, por excesso de trabalho na era anterior, o imperador se viu obrigado a julgar-lhes utilizando apenas o seu próprio juízo, se é que ele tinha algum. A maioria dos habitantes de Karalhananda achava que o imperador, por causa da sua conhecida benevolência e sonolência, iria libertá-los definitivamente. Entretanto, para surpresa dessa maioria, o imperador Rama Krishnanada retirou a sua espada da sua bainha azul, e degolou os dois delinquentes com um único golpe. Não satisfeito ainda, o imperador fez questão de retirar, utilizando o seu sabre afiado e de um azul metálico, as cordas vocais de suas gargantas. Ainda não obtendo satisfação, o imperador pegou a sua biga e deu um rolé pelo reino com a sua espada levantada por uma das mãos, enquanto a outra segurava aquelas cordas vocais assassinas. Os que eram contrários àquele ato, nem saíram de casa para ver o imperador que passava com a sua biga a bradar: "Tem minhoca nesse buraco!". Por outro lado, aqueles que eram a favor não hesitavam em ir ver o imperador passar, e gritavam também: "Tem minhoca nesse buraco!... Tem minhoca nesse buraco!".

Essa divisão de opiniões gerou futuramente uma série de conflitos e trocas de reinados, até que um dia o Rei Universal, já de saco cheio após tanta guerra, resolveu separar aquela tribo em duas outras, finalmente assim, "ufa!", dando origem aos Índigos e aos Babacanandas.

Cada tribo passou a ter a sua própria eletrosfera celestial. Os índigos foram para um lugar que hoje é chamado de Indigonádia (de "índigo nada": inexistente, desprezível; ou "indignado", no masculino singular). Já os babacanandas foram para uma eletrosfera "vip" bem pertinho do céu, e conhecida com o nome de Shivana Maha (derivado de "Shiva na marra", à força).

À medida que o tempo foi passando, cada tribo foi adquirindo as suas próprias idiossincrasias. Os indigozinhos são hiperativos, preocupados com o bem-estar social e não toleram injustiça. Já os babacanandazinhos não estão nem aí para nada, não se preocupam nem em ir à escola, enquanto que o indigozinhos se faltassem um dia ficariam preocupados a semana inteira. Os babacanandazinhos só querem mesmo é ficar sentados, rezando e implorando para o nosso papai celestial levá-los ao parquinho divino, para lá poderem se divertir até se esbaldarem com a enorme quantidade de brinquedinhos que existe lá. E o pior é que todos esses brinquedinhos são movidos à energia do pensamento, e não da justiça. Isso é uma das coisas que mais deixam os indigozinhos revoltados, pois eles tem ciência de que brincadeira tem hora, e de que eles são crianças mas nem tanto. Quando os babacanandazinhos não estão no parquinho, eles estão meditando, passando até dias a fio tentando paralisar as suas mentes; e a maioria deles acaba conseguindo realizar esse intento.



A TELEPATIA EXISTE

A Telepatia nos mostra que é realmente possível a mente de uma pessoa entrar na mente de uma outra, podendo vasculhá-la e extrair dela não somente pensamentos, mas também sensações e até vivências inteiras. E tudo isso pode ser feito num piscar de olhos, num estalar de dedos, e sem que a pessoa cuja mente esteja sendo bisbilhotada tenha qualquer sensação ou percepção de que isso ocorreu; a não ser que o invasor se identifique de alguma forma. A Telepatia nos mostra também o quanto as pessoas ainda estão desinformadas a respeito dessas possibilidades, e o quão a ciência ainda está engatinhando nessa área. Ela corrobora a importância da ética no desenvolvimento dessa habilidade, para que essa intrusão mental não acabe se transformando em assédio e em uma catástrofe em termos de convívio social.




02 março 2014

QUEM FOI O IRRESPONSÁVEL QUE TRANSFORMOU ÁGUA EM VINHO?

Existe aquele episódio, narrado na Bíblia, em que Cristo faz o que é considerado o seu primeiro milagre, que foi a transformação da água em vinho. É que Cristo havia sido convidado para uma festa de casamento junto com a sua mãe e os seus discípulos. E, por isso, esse episódio é chamado de Bodas de Caná, em que Caná era uma espécie de vila na região da Galileia. O que aconteceu durante essa festa é descrito no Evangelho de João, no capítulo 2, e nos versículos de 1 a 11.

Acontece que no meio dessa festa o vinho acabou. Aí, a mãe de Jesus, preocupada, ao que tudo indica, disse para ele: "Eles não têm mais vinho", então Jesus respondeu: "Que tenho eu contigo, mulher? Ainda não é chegada a minha hora". Mas mesmo falando assim, meio contrariado, Jesus acabou decidindo materializar o tal vinho.

Os versículos 6 e 7 dizem o seguinte:
6
"E estavam ali postas seis talhas de pedra, para as purificações dos judeus, e em cada uma cabiam dois ou três almudes."
7
"Disse-lhes Jesus: Enchei de água essas talhas. E encheram-nas até em cima."

Essas talhas eram vasos utilizados para armazenamento de água. E esse almude era uma medida de volume, e variava muito de região para região, mais ou menos entre 25 e 45 litros. Mas não é a quantidade exata de vinho que importa. Então, se nós considerarmos que cada talha poderia armazenar em torno de uns 100 litros, é provável que estejamos com uma média bem próxima da medida correta. Como eram 6 talhas de aproximadamente 100 litros cada uma, nós podemos considerar que Jesus produziu um volume de vinho próximo de uns 600 litros nesse milagre. Mas a questão aí é que Jesus, ao transformar água em vinho, fez uma apologia universal e escancarada ao álcool, à embriaguez, a uma das piores drogas que existem e que mais matam. O consumo excessivo de álcool causa dois e meio milhões de mortes todos os anos no mundo. Na minha família mesmo morreram três pessoas por causa da bebida e em estado lastimável. Dois deles, no fim de suas vidas, já na fase terminal, vomitavam pedaços da própria carne, que começou a se dissolver por causa do efeito do álcool. O terceiro teve complicações gastrointestinais bem graves, fez uma operação de última hora, mas não conseguiu sobreviver e morreu pouco tempo depois por causa disso. Se você nunca se deparou com esse tipo de problema na sua vida pessoal, você jamais compreenderá essa minha consternação. A dor é uma coisa que nós só conseguimos avaliar quando ela é sentida em nós próprios.

Então, Jesus, ao transformar esses 600 litros de água em vinho, ele só se preocupou em agradar à mãe dele e aos convidados da festa, para que eles pudessem continuar se embebedando, se entorpecendo, se embriagando; mas no meu entender, ele não teve poder nenhum, nem mesmo ética, nem perspicácia e nem um pingo de responsabilidade para perceber o grande mal que ele estaria fazendo à humanidade realizando esse tal milagre. Será que se a mãe dele gostasse de se embebedar, ele faria esse milagre, sabendo que o vinho produzido por ele mesmo seria usado pela sua própria mãe para ela se embriagar? Eu tenho certeza que não. Mas como o vinho seria consumido por outras pessoas, que talvez ele mal conhecesse, ele esqueceu a sua contrariedade inicial, e não hesitou em realizar essa transformação, esse milagre. 

Não havia a menor necessidade dele demonstrar para os seus discípulos o seu poder nessas circunstâncias. Ele poderia ter feito isso de forma reservada, só na presença deles, transformando uma pequena quantidade, e dado para eles degustarem. É muito fácil diferenciar a água do vinho dando só uma bebericada, sem ser preciso se embriagar, sem toda essa misancene, que envolveu até os serviçais da festa. Agora, uma coisa é certa, aquela notícia deve ter se espalhado rapidinho por toda a Galileia, e deve ter deixado muita gente espantada com aquilo, não só os discípulos. Portanto, se o objetivo de Jesus era fazer um marketing dos seus poderes, ele conseguiu. E, pelo que deu a entender, Maria sabia que ele tinha poder para fazer aquilo; afinal de contas, ele era filho dela, e ela conhecia ele muito bem, como toda mãe conhece o seu filho. Mas, eu ainda não vejo uma justificativa plausível para Cristo ter dado tanta importância a uma banalidade, a uma coisa tão vulgar.

Agora, pensa só uma coisa: não seria lindo se ele tivesse feito o contrário, transformado o vinho em água? Pensa bem. No mínimo, ele estaria sendo ético, o que já seria uma grande coisa. Para esses dois e meio milhões de pessoas que morrem todos os anos, vítimas do álcool, com certeza, transformar vinho em água seria um sacrilégio, um pecado, já que para eles o vinho era uma bebida sagrada, sagrada entre aspas, não é?! E Jesus pode ser um amigão do peito para muita gente, mas ele é um inimigo mortal de todas essas vítimas do alcoolismo. E quem faz apologia ao álcool está perpetuando esse ato criminoso dele. No meio cristão atual, todos nós sabemos que o consumo de álcool não é permitido em hipótese nenhuma, mas isso é porque o moralismo do cristianismo cresceu tanto nesses últimos 2.000 anos que ele acabou se desvirtuando das suas origens, já que para Cristo, por essa ação dele, descrita na própria Bíblia, está claro que encher a cara de álcool, está tudo bem, sem problema, está liberado. Mas nós sabemos, e as pessoas naquela época sabiam também, inclusive Jesus, que a bebida prejudica muito o nosso organismo e a nossa mente.

Deve ser também por isso que o álcool é uma droga lícita até hoje, não apenas devido à tradição, não duvido nada, por causa da enorme influência que tudo que é relacionado a Cristo tem ainda sobre o nosso mundo ocidental. Agora, vai eu, que não tenho poder nenhum, fazer apologia a alguma droga, mesmo ao álcool, vão me crucificar. Mas, como foi Jesus, o filho de Deus, o Todo-poderoso, então está liberado, glorificado e adorado por causa disso. Isso, no meu entender, é ter poder demais e falta do que fazer com ele.

Já que ele tinha tanto poder assim, tanta sabedoria e conhecimento, por que ele não aproveitou aquela reunião e tentou explicar para as pessoas ali, naquele momento, o funcionamento, por exemplo, da lei da gravidade? Assim, ele teria contribuído imensamente para o progresso da humanidade. Mas, ao invés disso, ele preferiu embebedar as pessoas daquela festa.

Para mim, Jesus, certamente, tinha muitos poderes, menos um: Visão a Longo Prazo dos Efeitos Nocivos da Doutrina dele. Dizem que Jesus retornará, e eu gostaria que ele retornasse mesmo, e repetisse essa façanha de transformar a água, que é o principal elemento da nossa sobrevivência, em álcool, o qual é o principal elemento da nossa mortandade. E desse essa bebida alcoólica para algumas pessoas se embebedarem. Aí, eu queria ver se o mundo aceitaria esse milagre novamente com a mesma naturalidade que ele vem sendo aceito até hoje; e queria ver se o mundo continuaria a amá-lo e adorá-lo. Agora, só porque da última vez que isso aconteceu foi há muito tempo, não muda muita coisa, aliás, não muda nada, principalmente para quem tem algum familiar ou amigo que sofre as consequências graves do consumo de álcool, que continua fazendo no nosso corpo o mesmo efeito que fazia há 2.000 anos, quanto a isso não mudou absolutamente nada. Ou seja, continua causando a mesma embriaguez, e os vários outros efeitos nocivos ao nosso organismo. A minha intenção não é recrucificar Jesus, é apenas fazer uma análise crítica, utilizando a lógica e os fatos que nós temos em mãos.

Eu não sou contra a mensagem que Jesus tentou transmitir, muito pelo contrário, eu sou totalmente a favor dela. Eu acho que o que está errado aí é a forma que ele utilizou para transmiti-la, a começar por essas demonstrações de poder paranormal, que foram assimiladas por nós, do mundo ocidental, como milagres. Por que eu digo isso? porque, na realidade, milagres não existem. Levitar sobre o mar, transformar água em vinho, fazer os peixes e os pães proliferarem, curar as doenças das outras pessoas ou ressuscitá-las, são obviamente tarefas que somente uma pessoa muito evoluída e poderosa como Jesus poderia fazer. Mas, esses fenômenos são possíveis porque a natureza desse universo permite que uma pessoa como Cristo possa fazê-lo. Aliás, qualquer um de nós, seres humanos, tem condições de através de certos estudos e práticas, isto é, de treinamentos, desenvolver essas capacidades paranormais. A física quântica está começando a pesquisar e a desvendar esses fenômenos. Por exemplo, o do efeito da oração, da reza, a física quântica já consegue explicar o princípio de funcionamento. Ela mostra que ele é um fenômeno natural, porém extrassensorial, ou seja, está além do que o nosso pensamento cartesiano, que está baseado nos nossos cinco sentidos, pode alcançar. Se alguém conseguir algum benefício para si mesmo ou para outra pessoa, através da reza, não é porque Deus ajudou, não é porque ele respondeu à oração. É a própria pessoa que ora que produz isso, com o seu próprio poder interior, que todos nós possuímos, porque nós fomos criados assim, dessa forma. Isso também pode ser conseguido por meio de exercícios de concentração e de meditação, não é algo místico e nem religioso, é científico. Não é uma benevolência de Deus que olha de uma forma especial para quem está orando, como a maioria acredita. Deus, a inteligência suprema, não ajuda ninguém, ele não interfere mais na sua própria criação, ele deixa as coisas rolarem, ele deixa que o nosso próprio livre arbítrio conduza a nossa vida, e isso tem muita lógica. Nós somos um reflexo do Criador, essa nossa essência divina, vamos dizer assim, na teosofia é chamada de alma ou espírito, na filosofia é chamada de mônada, no hinduísmo é chamada de atman, e na física quântica é chamada apenas de consciência. Segundo o espiritismo e toda a linha oriental, essa essência, que é autoconsciente, sem forma e indivisível, encarna e desencarna inúmeras vezes no mundo material para atender ao princípio da evolução, do aprendizado, até chegar a um nível evolutivo tal que não precise mais depender desse processo de reencarnação, que é bem primário, e possa então continuar se desenvolvendo em outras dimensões menos densas e menos sofridas do que essa em que nós vivemos atualmente.

Para mim, milagre mesmo, seria alguém conseguir fazer com que 2 + 2 fosse diferente de 4, que fosse 3 ou 5, por exemplo. Pode ter o poder que for, que ninguém, nem mesmo Cristo, conseguiria fazer isso. Essa característica matemática é um "default" do nosso universo, que já está definida desde que o nosso Criador estava lá na prancheta ainda, quando ainda quase nada havia sido definido, nem mesmo a simples ideia de ser possível a situação de se ter uma coisa do lado de uma outra coisa qualquer. Não tinha definição de nada ainda. E para alterar isso, teríamos que projetar e construir um novo universo, bem diferente desse, com outras leis e outras características. E isso ninguém vai conseguir fazer. Apesar de que, teoricamente, a tendência da evolução seria alcançarmos o nível de deuses, e podermos construir o nosso próprio universo, se assim o desejarmos, com as características que bem entendermos e nos forem possíveis imaginar e realizar. Esse nosso universo é uma máquina, muito engenhosa, por sinal, de formar mundos. Ocorre a explosão inicial, que seria o nosso bigbang, são gerados os astros, o universo se expande, depois se contrai e explode novamente, e fica nesse ciclo eterno. Cada explosão dessas gera uma nova versão de universo, com novas estrelas, novas galáxias e planetas. E Deus está constantemente gerando novas mônadas, novas almas, novas consciências, que utilizarão esse mundo material para evoluir, porque elas são criadas com o seu potencial adormecido.

O mundo oriental encara esses tais milagres de uma forma bem diferente do mundo ocidental; na Índia, então, é visto com bastante naturalidade. A linha do Ioga é muito profícua nisso. Por exemplo, existiu um iogue chamado Babaji, muitíssimo famoso no meio esotérico, que demonstrou, na prática, ter tido até muito mais poderes do que Cristo nos apresentou. O famoso livro "Autobiografia de um Iogue" de autoria do Yogananda, é rico desses casos. O Sai Baba, que conseguia materializar ouro, é um outro exemplo mais recente. Entre os monges do Tibete, levitação, materialização e transformação de matéria, utilizando o poder das nossas mentes, não causa nenhum espanto. Para conseguirmos desenvolver esses poderes, existem técnicas já bem conhecidas mundialmente, mas elas exigem um treinamento muito árduo, com dedicação exclusiva e que, geralmente, consome muitos anos de prática. Mas, nós sabemos que, hoje em dia, no ritmo em que vivemos é quase impossível, para qualquer pessoa normal, fazer essas coisas tendo que se preocupar as 24 horas do dia com o seu ganha-pão. Uma outra exigência fundamental, e aí a coisa piora mais ainda, é a necessidade de se ter um mestre realizado; já que, em noventa e nove por cento dos casos, o poder é transmitido de mestre para discípulo, dependendo isso mais da bondade do mestre e da afinidade que o discípulo tenha com ele do que do seu merecimento. É uma espécie de um networking espiritual. É sabido que Cristo passou um período da sua vida estudando na Índia, o que faz bastante sentido. E é bem provável que os seus poderes paranormais tenham sido desenvolvidos dessa forma.