27 fevereiro 2014

A HIPOCRISIA DA SANTIDADE

Meu pai, autodidata, tinha o dicionário na cabeça e uma cultura invejável. Nas humildes casas em que moramos, um item que não faltava era uma estantezinha abarrotada de livros, sobre os quais eu me debrucei muitas vezes. Eram livros de Karl Marx, Freud... muita coisa de psicologia, filosofia, história, Grécia e Roma antigas, e matérias pitorescas e cults assim. Ah! Inclusive, para vocês verem como eram cults, em uma dessas estantes deparei-me um dia, na minha adolescência, com um livro do Marquês de Sade. Quase caí para trás, ao lê-lo. Não de pudor, como os que conhecem a sua bela obra talvez venham a pensar, muito pelo contrário, e sim de tanto rir ao ler o resultado de sua admirável e original inteligência e passar a compreender a partir de então o quão imbecil e hipócrita é a santidade. Pois é a própria ideia da santidade que invoca e atrai a falta dela, o seu oposto.



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