O problema mesmo dessa doutrina, o cristianismo, não seria nem o fato dela estar em franca ascensão, já que, hoje em dia, estranhamente nós podemos assistir um culto pela TV ou até mesmo pelo rádio, e sim a questão de que ela está se desvirtuando das suas origens a cada dia. Isso é um grande problema. Eu adorava ir ao culto, era um verdadeiro espetáculo de fé, mas não daquela fé que ama um dinheirinho no bolso, egoísta; voltada unicamente para a auto-ajuda, principalmente econômica, e muito distante do altruísmo do cristianismo original. Uma fé que gosta de fazer escândalo, e ainda de propagar isso por todas as mídias possíveis. O evangélico de hoje, sob a égide da cruz de Jesus e doutrinado nesse pensamento cristão atual, é capaz de pisar na cabeça dos outros para provar perante a sociedade que é um "abençoado", financeiramente falando.
Eu via muita gente entrar em transe, principalmente nos dias do batismo, que era uma cerimônia impressionante; as pessoas ficavam em "alfa, beta, gama e teta". Às vezes eu sonhava com o meu dia de batismo, mas tinha medo de ali na hora me dar um troço, e ainda mais em público, pois seria o dia em que Cristo entraria dentro de mim, e nunca mais sairia. Eu estaria preenchido de Cristo para sempre, ou seja, eu também seria um Cristo, e essa glória seria tão grande que eu acho que desmaiaria. Os pastores tinham a calma e a sabedoria dos juízes, e eles não precisavam fazer muito esforço para provar isso. Se esses antigos pastores vissem os atuais, que só o que fazem é rebolar e cantar hinos em ritmo de axé em cima do púlpito, eles imediatamente chamariam o pessoal do hospício para fazer um resgate. Nada contra o axé, e sim contra esses recentes "pastores do axé". E, também, nada contra o rebolado, mas tudo tem a sua hora e o seu lugar. Contudo, se pudéssemos ver nessa atitude pelo menos um culto sincero à alegria, seria até louvável; mas nós sabemos muito bem que a intenção única e cínica é mesmo popularizar essa doutrina para que se possa avocar com facilidade cada vez mais fiéis, principalmente aqueles mais incultos e sem um senso crítico religioso, e assim os seus dízimos poderem engordar os bolsos desses pastores. Nunca vi, nos inúmeros cultos que presenciei, nenhum pastor se exaltar, a não ser quando a gente sentia que era meio como se ele estivesse realmente sendo tocado pela mão do Cristo, por ser um de seus pastores, cuja função, não posso esconder-lhes, já cheguei a almejar no primeiro período da minha vida, até a adolescência, época em que tomei contato pela primeira vez com as teorias da vida após a morte e da reencarnação, que infundiram em mim um desinteresse cada vez maior pelo cristianismo, à medida que eu me aprofundava nesses assuntos. Portanto, antigamente, não tinha isso de ficar gritando nos cultos. Aliás, não se gritava nada. E ai de quem gritasse ali, além de ter que ser expulso daquela reunião, seria também chamado de mal-educado. Ninguém tinha ataques, esperneava ou estrebuchava no chão. Os hinos eram lindos, maravilhosos, e acompanhados sempre e apenas por um melancólico piano. Tanto as letras quanto as melodias nos enlaçavam e nos arremessavam para outras esferas: "... Oh! Quantas vezes eu te chamei, e tu negaste a minha lei, escuta a voz do teu Senhor: segue-me, segue-me...".
Atualmente, não só os pastores são falsos, como também as suas ovelhas.
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